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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

DESIGUALDADES DAS RIQUEZAS


DESIGUALDADES DAS RIQUEZAS



         8. A desigualdade das riquezas é um esse problemas que se procura resolver, se não se senão a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que todos os homens não são igualmente ricos? Não o são por uma razão muito simples: é que eles não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar. Aliás, é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna, igualmente repartida, daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente: que, supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, isso seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que ocorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade; que, supondo-se que ela desse a cada um o necessário, não haveria mais o aguilhão (Tudo aquilo que incita a agir; estímulo: a glória é um poderoso aguilhão) que compele às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é porque daí ela se derrama em quantidade suficiente segundo as necessidades.

         Admitindo isso, pergunta-se por que Deus e dá a pessoas incapazes para fazê-la frutificar para o bem de todos. Aí ainda está uma prova de sabedoria e da bondade de Deus. Dando ao homem o livre arbítrio, quis que ele alcançasse, por sua própria experiência, a distinção do bem e do mal, e que a prática do bem fosse o resultado dos seus esforços e da sua própria vontade. Ele não deve ser conduzido fatalmente, nem para o bem nem para ao mal, sem o que não seria senão um instrumento passivo e irresponsável, como os animais. A fortuna é um meio de prová-lo moralmente; mas como, ao mesmo tempo, é um poderoso meio de ação para o progresso, Deus não quer que ela fique muito tempo improdutiva e, por isso, a desloca incessantemente. Cada um deve possuí-la para experimentar servir-se dela, e provar o uso que dela sabe fazer; mas como há a impossibilidade material de que de todos a tenham ao mesmo tempo; que, aliás se todo mundo possuísse, ninguém trabalharia e o aprimoramento do globo com isso sofreria, cada um possui a seu turno: quem não tem hoje, já a teve ou terá numa outra existência, e quem tem agora, poderá não tê-la mais amanhã. Há ricos e pobres porque Deus sendo justo, cada um deve trabalhar a seu turno; a pobreza é para uns a prova da paciência e da resignação; a riquezas é para outros a prova da caridade e da abnegação.

         Deplora-se com razão o lamentável uso que certas pessoas fazem de sua fortuna, as ignóbeis paixões que a cobiça provoca, e se pergunta se Deus é justo em dar a riqueza a tais pessoas. É certo que se o homem não tivesse senão uma só existência, nada justifica essa repartição dos bens da Terra; mas se, em lugar de limitar a visão à vida presente, considerar-se o conjunto das existências, vê-se que motivo para acusar a Providência, nem para invejar os ricos não têm mais do que se glorificar pelo que se possuem. Se dela abusam, não será nem com os decretos, nem com as leis suntuárias1, que se remediará o mal; as leis podem, momentaneamente mudar o exterior, mas não podem mudar o coração; por isso, elas não têm senão uma duração temporária, e são sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A fonte do mal está no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie cessarão por si mesmos quando os homens se regerem pela lei da caridade.



NOTA: 1- LEIS SUNTUÁRIAS
Na era medieval os Éditos Santuários serviam para impedir as classes pobres de se vestirem como os nobres, visando monopolizar o poder e dificultar, para não dizer impedir, a mobilidade entre as classes sociais e principalmente enfatizar uma hierarquia das condições.
Imagem do Blog Missixty

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